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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

ILHA BELA , PARAÍSO DOS PIRATAS

 

 

O tesouro da Vila Bela da Princesa

19 set Qual é o enigma dos 82 marcos e cinco pedras em formato de pirâmides no lado leste da Ilha Bela? História e livros ligam o tesouro desaparecido do Peru, na expulsão dos espanhóis, em 1823, com sociedade secreta de piratas. Até o mito da Atlântida entra na história. Engenheiro passa 40 anos decifrando mapas e relatos, descobre os marcos, mas a explicação continua incógnita.
Muito além da cadeira de praia, bronzeado e descanso, num piscar de olhos alguns livros transformam Ilhabela num cenário surpreendente da história da América do Sul. A antiga Vila Bela da Princesa, um arquipélago no litoral norte do Estado de São Paulo – com 36 km de praias, muito apreciada por velejadores do mundo todo, rica em rios ainda não poluídos cachoeiras, trilhas e muito borrachudo – esconde, talvez, o Ouro do Peru, desaparecido em 1823. E pode estar no Saco do Sombrio, um remanso no mar aberto no lado leste da Ilha, um local propício para atracação de todo tipo de embarcação. Ao seu lado está a Praia dos Castelhanos, cujo batismo dá a dica para o início da história. Essa praia foi porto seguro para as embarcações espanholas indo e vindo das colônias da América do Sul e, por isso, cobiçados por contrabandistas, piratas e mercenários.
O sumiço do tesouro – Laurentino Gomes, jornalista, em seu livro 1822, recupera a história do escocês Thomas Alexander Cochrane, um almirante mercenário que foi contratado por D. Pedro I para comandar a marinha brasileira nas guerras da independência. Antes de vir para o Brasil, Cochrane foi contratado pelo general José de San Martin, militar argentino libertador que acantonou os espanhóis no Peru. Vitorioso por terra, San Martin sofria revezes com a marinha espanhola e a atuação de Cochrane foi decisiva. Audacioso, valente e louco por dinheiro, o escocês conquistou o quase impossível porto de Valdívia, no Chile, saqueou um navio onde o próprio San Martin guardara todo o Tesouro Público do Peru e empreendeu algumas ações de pura pirataria, saqueando duas cidades e capturando um comboio de mulas que transportava ouro e prata de uma companhia americana. Como relata Laurentino Gomes, depois de pesquisar vários livros e a biografia de Cochrane: “Parte do dinheiro foi usada para pagar os salários da tripulação. O restante, Cochrane embolsou”. Quando chegou ao Rio de Janeiro, em 13 de março de 1823, “o almirante trazia no porão do navio um baú contendo ouro e prata no valor de 10 mil libras esterlinas, cerca de três milhões de reais no câmbio atual. Era apenas a metade do dinheiro que havia obtido como recompensa pelas vitórias contra os espanhóis no Pacífico. O restante fora enviado para a Inglaterra”. Será?
Outro relato traz essa história de forma diferente. Em seu livro, “Ilhabela, seus enigmas”, o mergulhador grego Jeannis Michail Platon, pesquisador de naufrágios na costa da Ilhabela, cronista e documentarista, volta ao ano de 1823, ao navio que San Martin carregou de ouro, jóias diversas e documentos, estimado em 20 toneladas. No mar, a esquadra do mercenário escocês cercava o porto de Callao impedindo a fuga de três navios espanhóis. O desfecho é para deixar Harrison Ford (Indiana Jones) e John Deep (Piratas do Caribe) com inveja. Os espanhóis rendidos impuseram uma negociação: ou saiam livres ou afundariam o tesouro, o que foi aceito por San Martin (Por esse acordo, San Martin foi acusado de traidor, desterrado, com asilo na França, posteriormente perdoado).
Resolvido o problema em terra, os espanhóis precisavam furar o bloqueio de Cochrane. “em surdina, fretaram o navio do escocês Thompson onde embarcaram a riqueza, zarparam os navios espanhóis no Pacífico rumo ao norte atraindo a perseguição de Cochrane, enquanto o navio de Thompson navegaria ao sul”. “Ninguém jamais teve notícia em parte alguma do mundo, desaparecerem navio, passageiros, tesouro e capitão”, afirma Jeannis Platon. Sem fontes documentadas, o pesquisador afirma no livro que Thompson, no leito de morte, revelou que fora forçado a se converter à pirataria, o navio teria sido aprisionado por uma esquadra francesa, a tripulação fora sacrificada e o tesouro desembarcado numa enseada rasa, ladeada por duas pequenas ilhas de pedras.
Dez anos depois, o francês Alexandre Dumas escreveu o romance O Tesouro de Monte Cristo a partir de depoimentos de presos no Castelo d’If, na Ilha de Monte Cristo. Dumas conheceu o Abade Faria e ouviu dele um relato sobre um fabuloso tesouro que fora escondido por ele, cujas coincidências de história e personagens lembram o tesouro da Ilhabela. Em 1881,o capitão E.F.Knight faz a primeira tentativa de localizar o tesouro e pesquisa a Ilha de Trindade, em mar aberto na costa do Espírito Santo. Escavou-a por quatro meses, sem resultado. O mesmo capitão retorna três anos depois com um mapa comprado de um contramestre russo com informações de corsários e do tesouro das guerras da independência da América do Sul.
Em paralelo, o que se conta é que um mapa foi descoberto na Índia, em 1852, e um roteiro foi encontrado em 1884, no Paraná, com o pirata Zulmiro, que estava no desembarque. O mapa foi repassado a um fazendeiro paranaense de origem inglesa, Eduard Stanley Young, que por seis meses tenta localizar o tesouro. Foram organizadas outras expedições no século XX, até que uma reportagem no jornal A Noite, em 1939, encantou o engenheiro belga Paul Ferdinand Thiry, trabalhador nas obras públicas na baixada fluminense e na construção do assentamento Dourado, em Mato Grosso.
Thiry não só descobriu ligações dos personagens de Monte Cristo como passou 40 anos pesquisando referências, mapas, códigos, fórmulas matemáticas. Sua primeira e principal descoberta: não era em Trindade, mas sim na Ilhabela o local do desembarque. Depois, estudando mapas e resolvendo enigmas dos relatos e das indicações concluiu que o local do desembarque havia sido a praia rasa e mansa do Saco Grande, do Bairro do Sombrio, em Ilhabela.
As marinhas brasileiras e cisplatinas já havia vasculhado o litoral brasileiro, sempre com foco em Trindade. Em 1949, Thiry consegue uma audiência oficial com o Ministro Renato Ghuilobel e tem aprovada uma proposta de pesquisa conjunta. Montaram uma grande operação com a participação dos caiçaras, dos quais ouviam muitas histórias do tesouro. Aos poucos e em terreno inóspito, a expedição foi localizando diversos pontos de referências até chegar a um suposto marco central. Foram descobertos misteriosos 82 marcos, um deles com 5 pedras no formato de pirâmide. Cansados e contrariados, os militares desistiram e autorizaram Thiry a continuar os trabalhos por conta própria o que vai até 1979 quando morre no Rio de Janeiro, sem descobrir a ligação entre os mapas, os marcos encontrados e os tesouro. Á revista Quatro Rodas, Thiry disse estar convencido que os dois mapas foram feitos por uma mesma pessoa, que Dumas de fato ouvira os relatos e levanta três hipóteses: piratas atacaram o navio com o Tesouro do Peru e ali o esconderam – a hipótese que considera mais provável. Na segunda os piratas formavam uma sociedade secreta e na Ilhabela funcionava como um banco, um centro de contrabando e tráfico de escravos. A terceira é que o local seria um túmulo de algum rei maia ou inca. “Pode ser que esse roteiro e o mapa estejam ligados à história da Atlântida, cujos sobreviventes poderiam ter vindo para a América do Sul”, disse Thiry na entrevista.
Mas a história não se encerrou. Em 1956, Thiry recebe a visita, o apoio e a sociedade de Osmar Soalheiro que, depois da sua morte continua o trabalho vasculhando uma área de 400 m2. A história encuca também Saint’ Clair Zonta Junior que, em 2011, publica um artigo jornal Imprensa Livre onde relata seu sobressalto ao conseguir decifrar a relação dos triângulos a partir do conceito de geometria esférica. Zonta Junior se mostra otimista com a possibilidade de decifrar o mistério e quem sabe nos próximos sonhos nas noites de verão tenhamos alguma notícia boa.
ILHABELA E SEUS ENIGMAS – Jeannis Michail Platon – http://www.sportmar.com.br

 

 

 

O Paraíso dos Piratas


“O mar está calmo... Bom seria se sempre fosse assim. Quem virá em nosso socorro quando as naus corsárias aparecerem? Riquezas, não temos... Maldade, eles têm em demasiado... Mas Nossa Senhora D’Ajuda não nos faltará”... Este pensamento habitava, todo o tempo, as mentes pacíficas dos ilhéus, acostumados ao isolamento, voltados ao mar aberto, guarnecidos apenas por parcas peças de artilharia
e muita coragem de seus “homens válidos”.


Ao longo de pelo menos 300 anos, entre a metade do século XVI e o final do século XIX, Ilhabela, por seus sacos e baías, foi um paraíso tropical para piratas ávidos por ataques a embarcações e povoados do litoral paulista. Por esse motivo, fica ainda mais fácil de entender a razão do arquipélago ser também motivo de comentários de que em suas areias e costões até hoje estão escondidos tesouros roubados pelos ladrões do mar. Aqui, eles descobriram o lugar ideal para, de forma nem sempre pacífica, abastecer suas naus de provisões (água, frutas, lenha), consertar alguma avaria nos galeões e planejar novas investidas. A base das operações era a Baía de Castelhanos, particularmente o Saco do Sombrio, onde faziam tudo às escondidas, pois é invisível para quem passa ao largo por causa das montanhas altas que o cercam. Não existe praia, mas suas águas são sempre muito calmas. Um refúgio, ainda que sem porto, mas plenamente seguro. 


Além do Sombrio, outro abrigo natural utilizado pelos ladrões do mar era a Praia da Serraria, também nas proximidades. Entre um ataque e outro, os feitos eram comemorados nesses locais com festa regada a rum, vinho e farta comilança. Os piratas e corsários eram principalmente ingleses, franceses e holandeses, useiros em pilhar as embarcações das frotas portuguesas e espanholas, quando estas rumavam de volta à Europa repletas de pedras preciosas e ouro vindos das colônias americanas. Além do mar, também espalhavam pânico em terras do litoral paulista, incendiando povoados, matando e saqueando indiscriminadamente com o objetivo de impedir a colonização. Impunes, muitas vezes agiam sob autorização de seus países de origem. Sempre foi trágica a presença de piratas na costa do Litoral Norte de São Paulo. Em 1582, Anchieta teria sido vítima deles quando viajava de Santos para o Rio de Janeiro numa canoa conduzida por índios. O corsário inglês Edward Fonton, depois de saquear várias embarcações, perseguiu o padre, que teve de desembarcar às pressas na ilha.

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