OS MAIORES E MAIS BELOS RUBÍS E SAFÍRAS, E OCORRÊNCIA DOS MESMOS NO BRASIL :
A SAFIRA LOGAN
AULA DE ESPECIALISTA EM GEMAS :
COMO IDENTIFICAR RUBÍS FALSOS E IMPERFEIÇÕES
VÍDEO COMEÇA AOS 33 SEG.; FANTÁSTICAS JÓIAS
RUBIS E SAFIRAS
Print version ISSN
0370-4467
Rem: Rev. Esc. Minas vol.58 no.3 Ouro Preto July/Sept. 2005
http://dx.doi.org/10.1590/S0370-44672005000300010
GEOCIÊNCIAS
Rubi e safiras de Minas Gerais, Brasil
Antonio LiccardoI; Ester Figueiredo OliveiraII; Hanna Jordt-EvangelistaIII
IDEGEO, Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP. E-mail: liccardo@ambienteimagem.com.br
IICentro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear - CDTN
IIIDEGEO, Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP. E-mail: hanna@degeo.ufop.br
RESUMO
Rubis
e safiras de quatro depósitos em Minas Gerais, denominados Sapucaia,
Indaiá e Palmeiras, na região de Caratinga-Manhuaçu, e Malacacheta,
mais ao norte, foram caracterizados em termos geológicos,
gemológicos, químicos e espectroscópicos, com o objetivo de
interpretar causas de cor, gênese, bem como analisar o potencial
econômico dos depósitos. Resultados de análises químicas e
espectroscopia UV-visível mostram que a provável causa da cor azul é
transferência de cargas entre Fe2+ e Ti4+, enquanto Cr3+
causa tonalidades violeta e púrpura, efeito alexandrita e
fluorescência. A ausência de Ce e La e o teor relativamente mais alto
de Ga distinguem as amostras de Malacacheta das demais. Além de
sugerir particularidades genéticas, a diferença em termos de
elementos-traços, pode ser utilizada como indicador de proveniência
das gemas. Inclusões de um polimorfo de Al2SiO5
e indícios de campo sugerem que o coríndon deve ter sido gerado por
processos metamórficos regionais, o que expande as possibilidades
para a descoberta de novas ocorrências de rubi e safiras nos terrenos
de alto grau metamórfico do leste de Minas Gerais.
Palavras-chave: Coríndon, rubi, safira, Minas Gerais, elementos traços, gemologia.
ABSTRACT
Rubies
and sapphires from four deposits in Minas Gerais named Sapucaia,
Indaiá and Palmeiras, in the region of Caratinga-Manhuaçu, and
Malacacheta, farther north, were characterized in terms of geology,
gemology, chemistry and spectroscopy in order to interpret causes of
color and genesis. The economical potential of the deposits was also
analyzed. Chemical analyses and UV-visible spectroscopy reveal that
the probable cause of the blue color is a charge transfer between Fe2+ e Ti4+, while Cr3+
causes violet and purplish tints, alexandrite effect and
fluorescence. Absence of Ce and La and relatively higher Ga-contents
distinguish the Malacacheta samples from the others. Besides
suggesting genetic particularities, the difference in terms of trace
elements might be used as a provenience indicator for the gems.
Inclusions of an Al2SiO5 polimorph and field
evidences suggest that the origin of corundum might be due to
regional metamorphic processes, thus expanding the possibilities for the
discovery of new occurrences of ruby and sapphires in the high grade
metamorphic terrain in eastern Minas Gerais.
Keywords: Corundum, ruby, sapphire, Minas Gerais, trace-elements, gemology.
1. Introdução
Nos
últimos anos, novas ocorrências de coríndon surgiram em Minas
Gerais, conhecido produtor de gemas coradas e diamante. Os depósitos
de Palmeiras, Indaiá, Sapucaia e Malacacheta produzem safiras azuis,
com tons violeta ou púrpura e rubi de tamanhos pequenos, mas com boa
intensidade de cor e transparência. Indaiá é um depósito já conhecido
(Epstein et al. 1994; Liccardo, 1999) e que teve sua produção
interrompida em 1996, mas que, esporadicamente, apresenta alguma
produção por garimpeiros. Do mesmo modo que em Indaiá, Palmeiras e
Sapucaia, descobertas recentes na mesma região, apresentam um bom
potencial gemológico, com gemas de tonalidades variando do azul ao
púrpura, às vezes com efeito alexandrita, eventualmente com presença
de rubi (Liccardo e Jordt-Evangelista, 2001). O depósito de
Malacacheta, conhecido há várias décadas como produtor de
alexandrita, sempre produziu safiras azuis como subproduto nas
minerações. Atualmente tais safiras estão sendo comercializadas como
material lapidável e sendo tratadas termicamente em Bangkok. Esse
artigo reporta características desses depósitos e suas gemas, assim
como mais informações sobre as já conhecidas safiras de Indaiá.
2. Histórico
A
presença de coríndon no Brasil tem sido mencionada há muito tempo em
literatura (Hussak, 1916; Guimarães, 1934), sem que existisse, no
entanto, uma produção de material com qualidade-gema. A primeira
menção de safiras azuis com qualidade para lapidação foi em Coxim,
Mato Grosso do Sul (Eppler, 1964). Nesses depósitos, a safira é
encontrada como mineral satélite em cascalhos produtores de diamante e
nunca houve produção constante, sendo que algumas pedras são
esporadicamente comercializadas.
Em
Malacacheta, pequenos cristais de safira azul e incolor/leitosa
foram retirados juntamente com crisoberilo e alexandrita durante
anos, desde a década de 80, contudo com pouca produção comercial.
A
descoberta dos depósitos de Indaiá no início da década de 90 foi a
mais promissora até então, tendo sido descrita por Themelis (1994)
como a primeira ocorrência comercial de coríndon no Brasil. Em 1999,
iniciou-se uma pequena produção em Sapucaia, cerca de 25km ao sul de
Indaiá, com gemas muito semelhantes, inclusive com moderado efeito
alexandrita (Liccardo & Jordt-Evangelista, 2000). Em 2000, surgiram
notícias sobre o depósito de Palmeiras, cerca de 60km a sudeste de
Sapucaia, com gemas semelhantes aos depósitos anteriores, mas com
tons predominantemente mais avermelhados. A falta de tradição na
exploração de rubi e safira, em meio a tantas outras gemas no Estado
de Minas Gerais, faz com que os garimpeiros que atuam nos pegmatitos
da região concentrem-se na extração de outras gemas, principalmente
água-marinha e, em Malacacheta, alexandrita e crisoberilo.
3. Localização e acessos
Três dessas ocorrências situam-se no eixo Manhuaçu-Caratinga, cerca de 250km a leste de Belo Horizonte (Figura 1).
A ocorrência de Indaiá pertence ao município de Vargem Alegre,
aproximadamente a 20km a noroeste de Caratinga, a montante do Córrego
São Gabriel.No município de Sapucaia, cerca de 25km a sudoeste de
Caratinga, nas cabeceiras do córrego Ferrugem, encontra-se a segunda
ocorrência. O depósito de Palmeiras situa-se no município de
Manhuaçu, no distrito de mesmo nome, 12km a noroeste da cidade.
Nessas ocorrências, o acesso, em parte, é feito por estradas de
terra, que, na estação das chuvas (setembro a janeiro), tornam-se
dificilmente transitáveis.
Os
depósitos de Malacacheta situam-se às margens do córrego do Fogo e
ribeirão Soturno, a aproxidamente 12km a norte da cidade de
Malacacheta. O acesso a essa região é um pouco melhor que os das
anteriores, mesmo na estação de chuvas. Malacacheta está cerca de
270km da região de Indaiá, Palmeiras e Sapucaia.
4. Contexto geológico regional
O
coríndon da região de Manhuaçu-Caratinga se encontra em depósitos
secundários sobre terrenos gnáissicos-migmatíticos, com presença
eventual de litotipos granulíticos e charnoquíticos, além de inúmeros
corpos pegmatíticos que entrecortam todas as rochas (Figura 2). Os terrenos fazem parte do núcleo do Orógeno Neoproterozóico Araçuaí (Pedrosa-Soares & Wiedemann-Leonardos, 2000).
Em
Malacacheta, os depósitos também são colúvio-aluvionares encaixados
em rochas metamórficas pré-cambrianas. Regionalmente, o contexto
geológico mostra a existência de um batólito granítico intrudido em
xistos peraluminosos das Formações Salinas e Capelinha e rochas
metaultramáficas que cortam os xistos da Formação Capelinha (Figura 2).
O corpo granítico, sem indícios de metamorfismo, foi datado em 537±8
Ma (Basílio, 1999) e as rochas encaixantes são de idade
proterozóica.
5. Características dos depósitos
Na
faixa que compreende os depósitos de coríndon, ocorrem litologias
pertencentes a terrenos metamórficos de médio até alto grau, como
xistos, gnaisses, granulitos e charnoquitos. Esses terrenos são
cortados por corpos pegmatíticos pouco diferenciados, por vezes
mineralizados em água-marinha. O coríndon é sempre encontrado em
depósitos sedimentares recentes, sem indícios da possível rocha que o
originou.
Os
depósitos podem abranger cinco tipos gerais: aluviões recentes,
paleoaluviões de terraço suspenso, paleoaluviões de fundo de vale,
colúvios e elúvios. A grande maioria dos depósitos de coríndon está
associada a paleoaluviões plio-pleistocênicos, formados sob condições
de fluxos torrenciais e retrabalhamento (Addad, 2001). Os depósitos
ocupam atualmente as partes mais profundas dos preenchimentos
sedimentares de vales, onde armadilhas de relevo condicionaram sua
deposição, ou terraços aluvionares suspensos, relacionados ao
desenvolvimento de paleosuperfícies. A alta densidade do coríndon faz
com que esteja associado a pesados blocos de quartzo e fragmentos de
encaixantes, nas porções mais inferiores.
Nesse
contexto secundário, o retrabalhamento sedimentar fragmenta e
"seleciona" os clastos e os concentra em níveis e pláceres. Do ponto
de vista do seu aproveitamento gemológico, essa seleção fornece
fragmentos com menor quantidade de defeitos de cristalização, de
fraturas e inclusões, que correspondem a partes com maior resistência
mecânica a impactos e abrasão. Isto significa que, a partir de uma
população original de fragmentos, existe uma tendência segundo a
qual, após o transporte por uma determinada distância dentro de um
fluxo sedimentar, os clastos recuperados apresentam uma maior
porcentagem de qualidade gema, pela eliminação de fragmentos
mecanicamente mais frágeis.
6. Métodos de extração
Os
depósitos de coríndon, usualmente inconsolidados, mostram uma
relativa facilidade mecânica de explotação. Camadas de sedimentos
cobrem os níveis mineralizados, geralmente cascalheiras aluvionares
ou porções grosseiras de colúvios. O descapeamento não oferece
maiores dificuldades técnicas, salvo quando se trata de aluviões
recentes ou paleoaluviões posicionados sob leitos ativos de cursos de
água, quando é necessário o bombeamento da água infiltrada ou o
isolamento da porção a ser trabalhada. As gemas podem, então, ser
separadas por processos que envolvem classificação granulométrica,
lavagem e concentração-catação.
Em Indaiá, após o rush
da extração, em meados de 90 (Epstein et al. 1994), os garimpos
paralisaram os trabalhos e hoje a extração é realizada
individualmente nos leitos dos rios. O mesmo acontece em Sapucaia,
que ao final da década era trabalhada com tratores e calhas para a
concentração do material. Na área de Palmeiras, somente garimpos em
aluvião estão produzindo, apesar de tentativas de mecanização. A
extração organizada tem esbarrado em problemas ambientais e, por
isso, está paralisada.
Em
Malacacheta, as áreas de extração (cerca de 4x4m) são escoradas
com madeira para contenção de terra e a água é bombeada continuamente
com motores movidos a diesel ou gás. Equipes de até cinco pessoas
trabalham em cada área, retirando o material mineralizado e buscando,
principalmente, a alexandrita, que ocorre associada.
7. Amostras e análises
Amostras
de coríndon, juntamente com seus minerais satélites, foram coletadas
com lavagem de cascalho e peneiramento. A quantidade de material em
bruto permitiu análises destrutivas e algumas amostras coletadas
puderam inclusive ser lapidadas. Em Palmeiras, foram obtidas 16 gemas
facetadas e 18 cabochões; em Sapucaia, 6 facetadas e 4 cabochões; em
Malacacheta, 4 facetadas e, em Indaiá, 5 facetadas.
As
amostras das quatro ocorrências foram submetidas a análises
gemológicas tradicionais e, ainda, cinco exemplares de cada depósito
foram moídos para análises químicas por INAA (Análise por Ativação
Neutrônica Instrumental) e uma por ICP-OES (Plasma Indutivamente
Acoplado com Espectrometria de Emissão Óptica), para complementação
de alguns elementos. Além disso, foram realizadas análises em
espectroscopia UV-Visível, ATD/ATG (Análises Termodiferencial e
Termogravimétrica) e MEV/EDS (Microscopia Eletrônica de Varredura com
Espectrometria de Energia Dispersa). As amostras submetidas à
espectroscopia foram preparadas em secções cortadas
perpendicularmente ao eixo c dos cristais. Os testes
termodiferencial e termogravimétrico realizados em um mineral anidro
(coríndon) resultam na identificação de fases hidratadas associadas a
esse mineral, como a bohemita e o diásporo.
8. Características e resultados
8.1 Malacacheta
A
safira de Malacacheta ocorre em cristais euédricos transparentes, no
formato típico de barrilete e tamanho normalmente pequeno (<1cm).
A maior parte apresenta um marcante zonamento de cor, sendo incolor
com um núcleo ou mancha de coloração azul intenso, boa transparência,
tendendo a translúcida, principalmente na parte incolor. O
pleocroísmo nas amostras azuis costuma ser moderado, de azul-escuro a
azul-claro. Fotografias representativas de amostras de Malacacheta
encontram-se nas Figuras 3 e 4.
Análises gemológicas convencionais resultaram num índice de refração
variando de 1,759 a 1,764 para o raio extraordinário e 1,767 a 1,770
para o raio ordinário. A birrefringência média é de 0,009 (Tabela 1).
Sob luz UV essas safiras mostram resposta moderada a fraca, de tons
avermelhados para todas as amostras azuis, tanto em SW como em LW. Uma
amostra incolor a levemente rosada apresentou reação muito forte ao
UV de ondas longas (LW).
As
inclusões sólidas identificadas em microscópio óptico e microscópio
eletrônico de varredura foram ilmenita, ilmenita magnesiana e um
polimorfo de Al2SiO5. O comportamento, na
análise termogravimétrica, indica ausência de diásporo ou boehmita,
comumente presentes em coríndon e causadores de perda de
transparência.
As
análises químicas resultaram, para as amostras de Malacacheta, na
seguinte composição em elementos menores e traços: Cr 20 a 58ppm, Fe
3582 a 4415ppm; Ga 180 a 192ppm; Ti 392ppm; Na 69-90ppm; Mn 13ppm; La
0 a 3ppm e V 18ppm (Tabela 2
- para o Ti, Mn e V somente uma análise). A presença desses
elementos indica que, muito provavelmente, a coloração azul das
safiras de Malacacheta tenha como causa uma transferência de cargas
eletrônicas entre os íons Fe+2 e o Ti+4.
Considerando-se esses teores de Fe e Ti e as características ópticas
da safira, é possível que um tratamento térmico sob condições
adequadas possa redistribuir a coloração azul ou mesmo transformar a
cor branca leitosa em azul profundo na maior parte do material produzido
em Malacacheta. Os espectros UV-Visível mostraram picos intensos nas
regiões de 485 e 585nm, possivelmente associados à presença de Fe3+ (Figura 6).
8.2 Indaiá
Safiras de colorações que variam de azul profundo ao violeta, quase púrpura (Figuras 3 e 4),
são encontradas em depósitos coluvionares e aluvionares de Indaiá.
Os cristais apresentam-se anédricos, geralmente de tamanho pequeno
(<1cm) e alguns mostram um moderado efeito alexandrita de azul
para azul-púrpura e de púrpura para púrpura-violeta.
As
análises gemológicas mostraram um pleocroísmo forte de azul para
azulvioleta e de azul-claro para púrpura. Os índices de refração
variam de 1,760 a 1762 para o raio extraordinário e 1,770 para o raio
ordinário, com birrefringência variando de 0,008 a 0,010. Sob luz UV
de ondas longas (LW), as amostras apresentam fluorescência variável
de moderada a forte com coloração avermelhada (Tabela 1).
As inclusões são constituídas de rutilo, ilmenita, zircão, moscovita, monazita (Figura 5), espinélio, biotita (Figura 5) e um dos polimorfos de Al2SiO5.
Análises
químicas e espectroscópicas mostraram a presença de Fe, Ti e Cr
como prováveis elementos causadores de cor nessas safiras. O efeito
de mudança de cor (efeito alexandrita) e a forte fluorescência são
associados à presença do íon Cr3+. Os elementos menores e
traços quantificados foram: Cr 191 a 390ppm, Fe 2626 a 3615ppm; Ga 60
a 93ppm; Ti 185ppm; Na 57-78ppm; Mn 13 ppm; La 19 a 81ppm; Ce 66 a
159ppm e V 44ppm (Tabela 2 - para o Ti, Mn e V somente uma análise).
Em
termos de cor e transparência, as safiras mostram um bom potencial
para aproveitamento gemológico, o qual pode ser sensivelmente
aumentado com tratamento térmico adequado. Themelis (1994) sugere que
80% do material produzido nessa localidade se prestaria ao
tratamento por aquecimento, com base em testes que realizou em
atmosfera oxidante e temperatura em torno de 1750ºC.
Os
espectros referentes às amostras de Indaiá são muito semelhantes aos
obtidos em Palmeiras e Sapucaia, mostrando uma banda de absorção
entre 370 e 420nm, que, em safiras azuis do Sri Lanka, Mianmar,
Vietnam e outras (Smith et al., 1995), é associada à presença de Fe3+. A faixa entre 500 e 600nm, região indicativa do mecanismo Fe2+ - Ti4+ e da presença de Cr3+, apresenta-se na forma de bandas largas e suaves (Figura 6).
8.3 Sapucaia
A
safira de Sapucaia ocorre em cristais euédricos, subédricos e
fragmentos irregulares, nas cores azul, púrpura, violeta e preta (Figuras 3 e 4).
Apresenta-se em prismas hexagonais alongados e, muitas vezes,
terminados em bipirâmide, sendo a superfície externa dos cristais
normalmente lisa e freqüentemente recoberta por muscovita
microcristalina. A maior parte dos cristais mostra dimensões em torno
de 1cm, variando desde alguns milímetros até 8cm de comprimento (o
maior exemplar encontrado).
Os
cristais exibem pronunciada partição basal e romboédrica nos planos
de geminação polissintética. Em termos de diafaneidade, são opacos
até transparentes e parte pode ser aproveitada como gema, apesar das
abundantes fraturas. Nos exemplares translúcidos e transparentes,
foi verificada uma distribuição irregular da cor, além de inclusões
opacas. Como efeitos ópticos especiais, foram observados o efeito
alexandrita (safiras azuis em luz natural tornam-se violetas sob
iluminação incandescente), o efeito seda (brilho prateado sedoso) e,
nas safiras pretas, ocorre, ainda, o asterismo com a formação de
estrela de seis pontas.
As
análises gemológicas mostraram pleocroísmo moderado a acentuado nas
amostras azuis, púrpura e violeta. Os índices de refração variam
de 1,759-1,762, para o raio extraordinário, e 1,768-1,770, para o
raio ordinário, com birrefringência média de 0,009 (Tabela 1).
Sob iluminação ultravioleta de ondas curtas (SW), as safiras
mostraram uma reação fraca a moderada (violeta); em ondas longas, as
amostras, nas cores violeta e púrpura, apresentaram reação de
fluorescência muito forte (vermelha) e, nas outras cores, reação
moderada (violeta).
As principais inclusões identificadas foram mica castanha (Figura 5), rutilo, ilmenita e um polimorfo de Al2SiO5,
além da constatação de diásporo nos planos de geminação
polissintética, muito semelhante ao material de Indaiá. As análises
químicas mostraram os seguintes teores dos elementos menores e
traços: Cr 54 a 1092ppm, Fe 4603 a 9312ppm; Ga 94 a 293ppm; Ti
361ppm; Na 58 a 169ppm; Mn 18 ppm; La 3 a 206ppm; Ce 21 a 300ppm e V
62ppm (Tabela 2 - para o Ti, Mn e V somente uma análise).
Os
estudos dessas safiras apontam boas possibilidades de aproveitamento
gemológico, à semelhança da safira de Indaiá, principalmente em
relação às de cor azul e violeta e com efeitos ópticos especiais.
Possivelmente, esse aproveitamento poderá ser aumentado se essas
safiras forem tratadas termicamente. Os espectros UV-Visível são
semelhantes aos de Indaiá, com banda de absorção mais abrupta em
torno de 370nm e uma banda suave entre 520 e 580nm, provavelmente
relacionadas ao mecanismo de cor Fe2+ - Ti4+ (Figura 6).
8.4 Palmeiras
Os
cristais encontrados em Palmeiras são euédricos, de coloração
predominantemente avermelhada (rubi ou safira rosa), em menor escala
também violeta ou púrpura e, raramente, azul, com hábito prismático
alongado e em "barrilete", com tamanho variando de 0,5 a 4cm (Figuras 3 e 4).
Alguns exemplares pequenos também mostraram o efeito alexandrita,
semelhante a Indaiá e Sapucaia, mas o efeito óptico especial, que
predomina nessas amostras, é o efeito seda e, esporadicamente, alguns
rubis apresentam discreto asterismo. Uma parte dos cristais
apresenta-se transparente, porém a maioria varia de opaca a
translúcida.
Amostras
de coloração vermelha e rosa apresentam pleocroísmo moderado para
tons mais escuros e os cristais azuis e violeta possuem pleocroísmo
fraco. Os índices de refração variam de 1,761 a 1,763, para o raio
extraordinário, e 1,769 a 1,771. para o raio ordinário. A variação da
birrefringência é de 0,008 a 0,010. Sob luz ultravioleta de ondas
curtas (SW), a reação foi muito fraca e, em ondas longas (LW), as
amostras de cores vermelha e rosa mostraram fluorescência muito forte
(Tabela 1).
Como inclusões sólidas ocorrem zircão, rutilo (arredondado e acicular), apatita, ilmenita, hematita, monazita e mica (Figura 5). Também, nessas amostras, o diásporo encontra-se nos planos de geminação polissintética.
Os
teores dos elementos menores e traços são: Cr 596 a 1293ppm, Fe 2022
a 3733ppm; Ga 71 a 114ppm; Ti 172ppm; Na 63 a 73ppm; Mn 9 ppm; La 16
a 150ppm; Ce 98 a 368ppm e V 57ppm (Tabela 2).
A espectroscopia UV-Visível mostrou resultados muito semelhantes a
Indaiá e Sapucaia, com banda de absorção de 370nm a 420nm e uma banda
suave entre 520 e 580nm, provavelmente relacionadas à presença de Fe2+ - Ti4+ nas amostras azuladas e Cr+3 nas amostras rosadas ou avermelhadas (Figura 6).
9. Discussão
A
descoberta de diversas ocorrências de coríndon com qualidade
gemológica em áreas relativamente próximas é um forte indicativo do
potencial para a existência de outros depósitos e de aumento da
produção de rubi e safiras no Brasil.
As análises químicas apontam as causas de cor azul como sendo o mecanismo de transferência de cargas entre Fe2+ e Ti4+ e a presença de Cr3+,
possivelmente, influencia nas tonalidades violeta e púrpura, assim
como pode estar associada ao efeito alexandrita e à forte
fluorescência de algumas amostras, principalmente em Palmeiras e
Indaiá. Nas amostras de coloração vermelha e com tonalidades rosa, os
teores de Cr são sensivelmente mais altos, podendo ser vinculados
como causa dessas cores. Os espectros em UV-Visível são coerentes com
essas possibilidades.
A
ausência de Ce e La e o teor relativamente mais alto de Ga
distinguem o coríndon de Malacacheta do coríndon da região de
Manhuaçu-Caratinga, o que pode sugerir diferenças genéticas e esse
fato pode ser utilizado como indicador de proveniência.
Indícios
de campo, como as rochas predominantes nas regiões, sugerem que a
gênese do coríndon pode ser associada a processos metamórficos
regionais, o que expande as possibilidades de existirem novas
ocorrências em todo o leste de Minas Gerais, cujo contexto geológico é
muito semelhante.
Os
resultados analíticos e as características físicas descritas indicam
que a aplicação de tratamento térmico adequado no coríndon estudado
pode vir a melhorar significativamente a qualidade das gemas
produzidas e viabilizar uma produção sistemática. Malacacheta, por
apresentar produção constante, e Indaiá, pela qualidade de suas
safiras, são as ocorrências com melhores possibilidades para a
sistematização da extração.
10. Referências bibliográfias
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Artigo recebido em 18/04/2005 e aprovado em 19/07/2005.
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