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terça-feira, 9 de outubro de 2012

O CICLO DO OURO MINEIRO - REPORTAGEM


À procura do ouro e pedras preciosas seguiam os bandeirantes, desde o primórdio da história colonial, rumo ao interior. Depois de descobertas as minas de ouro, a grande invasão do território mineiro se fez, principalmente, pelo caminho do Rio de Janeiro e São Paulo, chamado de Caminho Geral do Sertão. Do Rio de Janeiro iam os viajantes por mar até Parati onde começava o caminho por terra, atravessando a Serra do Mar, juntando-se à terra paulista, em princípio Taubaté, e depois em Pindamonhangaba. Fundidos os caminhos num só, seguia este para as minas, atravessando a Serra da Mantiqueira na Garganta do Embaú e Passa-Trinta (hoje, Passa Quatro). O Caminho Geral do Sertão continuava por lugares onde hoje se situam as cidades de: Itanhandu, Santana do Capivari, Consolação, Pouso Alto, Boa Vista, Baependi, Conceição do Rio Verde, Cruzília, Ingaí. Seguia-se a travessia do Rio Grande, pouco depois de passar por Ibituruna, a do Rio das Mortes, chegando-se até o arraial do Rio das Mortes, atual cidade de São João Del Rey.  



Caminho Novo: Em 1699, o Governador Artur Menezes de Sá, recebeu autorização de Lisboa para a feitura de um novo caminho para as minas. O desbravador Garcia Rodrigues Paes levou a cabo a incumbência de abrir o Caminho Novo, que, estando aberto em 1707, a partir do Rio de Janeiro transpunha a Serra dos Órgãos, vindo direto aos vales dos Rios Paraíba e Paraibuna, chegando até Borda do Campo e Registro. Neste ponto havia uma bifurcação: um caminho continuava para Vila Rica (Ouro Preto), e o outro, seguia rumo ao Arraial do Rio das Mortes (São João Del Rey). O Caminho Novo encurtava a viagem em 15 dias e ficaria conhecido na história como o Caminho do Ouro.





de Ouro Branco - Minas Gerais    
 
Cidade Ouro Branco - Minas Gerais
Nem tudo foi sofrimento para aqueles que desbravaram Minas em busca de ouro e pedras preciosas. Havia também momentos de pura admiração, quando a ânsia e a ganância davam lugar ao simples deleite de ver, de sentir. A imagem da serra de Ouro Branco, majestosa, certamente tornou mais amena a vida daqueles homens. Um verdadeiro monumento natural à contemplação.

Ouro Branco nasceu no caminho do ouro e foi uma de suas fronteiras. A primeira mina das Minas Gerais foi encontrada em Itaverava, uma cidade próxima. Não demorou para que os aventureiros percebessem que toda a região era um grande depósito aurífero, que se estendia até os fabulosos veios de Ouro Preto e Mariana. Estava nos leitos dos rios, na beira do caminho, aos olhos de todos. Ouro Branco era um desses lugares.

O metal precioso parece ter acabado, restando as histórias e uma natureza privilegiada. Mesmo assim ainda persistem muitos boatos: uma das pontas da serra, no distrito ouro-pretano de Miguel Burnier, concentra incríveis reservas de ouro. Tudo leva a crer que o segredo é muito bem guardado, o que aumenta as suspeitas. Afora as lendas, resta a presença onipotente da natureza: verdadeiro tesouro para o turismo.

Do alto da serra é possível avistar Ouro Branco, as cidades de Conselheiro Lafaiete e Congonhas e a Barragem do Soledade. Na serra de Ouro Branco nasce a cadeia de montanhas denominada Espinhaço. Tudo em meio a um cenário que oculta corredeiras, cachoeiras e esplêndidos mirantes. Ainda na serra, seguindo em direção a Ouro Preto, está o distrito de Itatiaia. O arraial contém importantes construções remanescentes do séc. XVIII, sobressaindo por entre as montanhas. No distrito está localizada a igreja de Santo Antônio do Itatiaia, tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional.

Matriz de Santo Antônio - teto pintado por Mestre Ataíde

Trecho asfaltado da histórica Estrada Real

Cachoeira no distrito de Itatiaia Marco da Siderúrgica Açominas

Turismo é a palavra de ordem e traduz a grande vocação de Ouro Branco. Suas belas paisagens proporcionam uma entrada gloriosa no Circuito do Ouro, do qual a cidade faz parte. A Estrada Real, hoje asfaltada, carrega consigo anos e mais anos de histórias. A serra de repente aparece e se impõe não como um desafio. Já o foi em épocas passadas. Hoje é apenas a fronteira de um mundo diferente, cuja narrativa foi escrita com ouro, suor e pedras preciosas. Quem viaja por estes caminhos exercita mais que o prazer da descoberta; passa a escrever e se torna parte da história das Minas Gerais. Inesquecível!

A "bandeira" paulista que primeiro chegou à região (1694) era comandada por Miguel Garcia. Passou por Itaverava, Lafaiete e se dividiu quando alcançou uma majestosa serra (1560m de altitude). O motivo pode ter sido um desentendimento entre seus integrantes. Manuel Camargo seguiu rumo ao nordeste, sentido vale do Tripuí, onde achou ouro escuro, chamado por isso "ouro preto". A cor se devia à presença de óxido de ferro, que escurecia os granetes.

Miguel Garcia rumou para oeste, descendo um rio da serra. Lá ele encontrou ouro de cor amarela, ficando assim conhecido como branco, "ouro branco". Nascia o ciclo do ouro no arraial de Santo Antônio de Ouro Branco e data desta época a Matriz de Santo Antônio, construída no período de 1717 a 1779, consagrando-se como uma das mais antigas de Minas Gerais. Grande patrimônio histórico e religioso, a igreja passou por reformas introduzidas por Aleijadinho. Também recebeu o talento, retratado nas pinturas do mestre Manoel da Costa Ataíde. Apesar de ser um monumento de importância para a cidade, são poucas as informações e documentos existentes sobre a matriz.

O arraial ficava no trajeto da "Estrada Real" e viu de perto o desenrolar de importantes acontecimentos históricos de Minas. Nas margens do caminho, hoje uma rodovia asfaltada, fica um prédio conhecido "Casa de Tiradentes", que fazia parte da fazenda das Carreiras. O antigo casarão, construído em pedra e madeira de lei, serviu para hospedar ilustres visitantes. Há quem afirme que os inconfidentes se reuniram na "Casa de Tiradentes" por diversas vezes. Entretanto esta teoria gera controvérsia. O local era pouso de tropas, portanto pouco apropriado e discreto para reuniões em que se discutia a libertação do Brasil de Portugal.

Construção antiga na beira da Estrada Real (Itatiaia)

Casarão no centro histórico de Ouro Branco

Ponte histórica na Estrada Real

Igreja de Santo Antônio (distrito de Itatiaia), tombada pelo Patrimônio Histórico

O mais provável é que os inconfidentes se reuniam na Estalagem Varginha (município vizinho de Conselheiro Lafaiete). Tanto é assim que Tiradentes, depois de morto e esquartejado, teve sua perna direita pendurada numa gameleira, que existe até hoje ao lado das ruínas da antiga estalagem. Seja como for, a "Casa de Tiradentes" é um belo exemplar da singela arquitetura colonial brasileira e merece uma visita. O distrito de Carreiras, onde está a fazenda, recebeu este nome porque lá se fazia a troca de cavalos. Diz-se que era comum dar uma "carreira", ou seja, uma disparada, para ver se o animal era resistente.

Serra de Itatiaia

Casa de Tiradentes

Desde o fim do eldorado, a cidade já vivenciou vários ciclos econômicos. Devido a seu solo de terras arroxeadas, a região foi propícia para a vinicultura, chegando a sediar a Companhia de Vinhos Nacionais. No início do século XX, a cultura de batata tomou conta do local. Através da sociedade entre um comerciante português e outro de Ouro Preto, sementes eram importadas de Portugal. Na época, Ouro Branco chegou a se destacar como a maior produtora de batatas de Minas Gerais. Até os dias atuais o ciclo da batata ainda deixa vestígios. Há 18 anos a cidade comemora o "Festival da Batata", que acontece sempre durante a primeira semana de outubro e reúne cerca de 30 mil pessoas por dia.

Em meados da década de 1970 começou um novo ciclo: o do aço. O surgimento da siderúrgica Açominas deu impulso ao município. Pessoas de diferentes partes do país desembarcaram em Ouro Branco, trazendo um desenvolvimento sem precedentes. Nascia uma nova cidade, planejada com amplas avenidas e dividida em setores.   


 
MINA DA PASSAGEM : A MAIOR MINA DE OURO DO MUNDO , ABERTA À VISITAÇÃO
 
 



 
MINAS DE SÃO JOÃO DEL REI


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