http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-08-15/mato-grosso-e-para-concentram-maior-parte-dos-garimpos-clandestinos
Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília – No atual cenário, Mato Grosso e Pará concentram o maior
volume de atividades sob a mira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O coordenador-geral de
Fiscalização do Ibama, Rodrigo Dutra, engrossa o coro dos que atribuem o
aquecimento do garimpo ao elevado valor do ouro, descartando os
problemas de legislação e de falta de fiscalização.
“O garimpo está bem aquecido por causa do preço. O ouro está valendo
muito e as pessoas estão correndo”, disse Dutra. Garimpos desativados
das outras corridas estão sendo retomados com o auxílio de outros tipos
de ferramentas, ressaltou. “O preço viabiliza a compra de máquinas, de
óleo diesel.”
Novo Astro e Juruena, em Mato Grosso, estão entre os principais
focos de preocupação. “O garimpo de Juruena, no extremo sul do Parque de
Juruena, já tinha sido desativado há muitos anos, mas voltamos agora
para impedir a retomada. No de Novo Astro, houve uma grande operação no
ano passado, com o Exército e a Polícia Federal,e desativamos muitos
motores”, lembrou Dutra.
Nos últimos cinco anos, foram desativados 81 garimpos ilegais que
funcionavam no norte de Mato Grosso, sul do Pará e no Amazonas, na
região da Transamazônica. Nesta semana, fiscais do Ibama e da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e agentes da Polícia Federal, desativaram três
garimpos ilegais de diamante no interior da Reserva Indígena Roosevelt,
em Rondônia, apreendendo motores e destruindo equipamentos usados na
extração do minério.
“Tirar os equipamentos dá mais resultado que a própria multa”, disse
Dutra. Geralmente, as operações resultam na retirada de máquinas
conhecidas por PCs, que são retroescavadeiras de grande porte, e motores
de caminhões que jogam a água para selecionar o minério. “Tem grandes
motores destes no garimpo que a gente destrói no local, assim como
balsas [adaptadas com dragas para puxar o cascalho e terra do fundo dos
rios]. Quando é possível retirar do local, levamos para depósitos”,
acrescentou.
Algumas das retroescavadeiras apreendidas pelos fiscais são doadas
para prefeituras de cidades vizinhas. Muitas balsas usadas pelos
garimpeiros são construídas no próprio local de exploração, devido ao
porte e à dificuldade para levar a embarcação equipada com dragas até as
áreas de garimpo. Em alguns casos, depois da extração do ouro, o
equipamento é abandonado no local.
Dutra acredita que existe uma clara tendência de aumento do garimpo,
assim como da ação de madeireiras. O monitoramento do desmatamento,
inclusive, tem contribuído para a identificação de garimpos ilegais na
região, diz o Ibama. Além das dificuldades de apreensão dos
equipamentos, os fiscais enfrentam resistência da população local por
causa dos impacto econômico produzido pelo garimpo. A atividade, mesmo
ilegal, aquece a economia local, movimentando o comércio e garantindo
empregos, ainda que, em péssimas condições.
“Como movimenta muito a economia dos municípios, geralmente a
população é a favor da atividade. Por isso, avaliamos a periculosidade
para dar segurança [aos fiscais, durante as operações]”, disse Dutra.
Agentes dos órgãos ambientais contam que muitas vezes recebem pedidos de
políticos locais para suspender as operações. “São apenas tentativas. O
Ibama não sofre essa ingerência”, garante Dutra.
A resistência declarada pelo Ibama ocorre em um cenário de pressão
de vários segmentos locais, como diz Onildo Marini, secretário
executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria
Mineral Brasileira (Adimb). Segundo ele, existem grandes interesses de
empresários e políticos no negócio ilegal.
“Olha, todo mundo sabe. Nas capitais, nas cidades vizinhas, os
comerciantes e o governo sabem que existe atividade ilegal, mas [as
autoridades] não atuam”, descreveu o geólogo. “Na Guiana Francesa,
existe uma política violenta contra o garimpo. Brasileiros já foram
expulsos. Quando chega o garimpo, eles detonam, destroem os
equipamentos. Aqui não temos essa politica agressiva, porque tem gente
ganhando”, afirmou.
Os resultados imediatos produzidos pela atividade não representam a
única motivação de pressão. Para Marini, o garimpo exerce uma forte
influência nas urnas. “Quem descobriu a importância do garimpo, em
termos de voto, foi o regime militar. Tem fotografias do [último
presidente do regime militar, João Baptista] Figueiredo em Serra Pelada,
no meio de milhares de garimpeiros”, destacou, referindo-se à primeira
eleição realizada no governo militar.
“Tem muito voto. Isso interessa aos partidos e tem muito ganho local
com o garimpo. É uma riqueza. É ilegal porque é área protegida, mas
gera a riqueza que circula na cidade, o comércio é ativado”, afirma
Marini.
Apenas o Ministério Público Federal no Pará investiga 142 ações
envolvendo a atividade de garimpo. Alguns casos envolvem também trabalho
escravo e tráfico de pessoas para atuação em garimpos no Suriname, por
exemplo. Entre as denúncias apresentadas pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os crimes apontam cinco
diferentes responsáveis pela criação de garimpos ilegais no interior da
Reserva Biológica das Nascentes da Serra do Cachimbo, no extremo sul do
estado, entre os municípios de Altamira e Novo Progresso.
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