A hidrelétrica de Belo Monte vai abrir caminho para um grande projeto de exploração de ouro
na Volta Grande do Rio Xingu, o trecho que será mais impactado pela
obra, com a perda de até 80% de sua vazão. A companhia Belo Sun Mining
Corporation, com sede no Canadá, apresenta o empreendimento como o
“maior projeto de ouro em desenvolvimento no Brasil”. A previsão é de um investimento total de pouco mais
de US$ 1 bilhão e de que, em 11 anos de operação, deverão ser
produzidas 51,2 toneladas de ouro, uma média de 4,6 toneladas de ouro
por ano. O Ministério Público Federal
(MPF) em Altamira (PA) já começou a investigar o projeto Belo Sun
Mining, que está sendo licenciado pela Secretaria Estadual de Meio
Ambiente do Pará (Sema). O Relatório de Impacto Ambiental
(Rima) do projeto, no entanto, não leva em consideração a barragem e
por isso não avalia os impactos cumulativos que um empreendimento desse
porte poderá causar numa região sob severo dano ambiental. A hidrelétrica só é mencionada na parte sobre fornecimento de energia, mas na verdade a mudança na vazão e no curso do rio vai viabilizar a implantação da mina pela Belo Sun Mining Corporation. A procuradora da República Thais
Santi questiona a realização de um empreendimento desse porte em uma
área já fragilizada com a instalação da usina de Belo Monte, justamente a
região que é afetada pelo desvio da vazão do Xingu para alimentar as
turbinas da hidrelétrica. O MPF questiona a ausência de
informações sobre impactos aos indígenas na Volta Grande. Não há estudos
e a Fundação Nacional do Índio (Funai) sequer foi consultada para o
licenciamento. O MPF solicitou ao Departamento Nacional
de Produção Mineral informações sobre as licenças de exploração que a
empresa Belo Sun Mining Corporation tenha na região do Xingu. De acordo com o site da empresa, trata-se de um empreendimento com sede no Canadá e “portfolio” no Brasil. - Belo Sun Mining está
pesquisando ouro ao longo dos cinturões mais ricos em minério no norte
do Brasil, uma região com vasta riqueza mineral e uma indústria
mineradora vibrante e moderna. O Brasil tem uma indústria de mineração
de importância mundial com um potencial de exploração considerável. O
Brasil também tem clima
político favorável, com um código de mineração recentemente modernizado
e, apesar destas condições geológicas, permanece largamente inexplorado
– diz o site da empresa na internet. A companhia informa que detém os direitos de pesquisa
e lavra em uma área de 1.305 quilômetros quadrados que é conhecida pela
mineração artesanal. É uma das preocupações do MPF, já que, de acordo
com os moradores das ilhas da Volta Grande do Xingu, eles ainda detém os
direitos de lavra na região.
Acho que o Brasil tem mais é que explorar suas riquezas,
não interessa se é por uma estatal, ou por uma outra empresa, que seja
Brasileira ou estrangeira, o que nos interessa é o desenvolvimento do
pais, agora tem que distribuir renda, amparar os ribeirinho, os
indígenas, dando melhor condições de vida, como saúde, educação, segurança, e oportunidade de trabalho
para que eles possam se manterem com dignidade, não dando aos indígenas
carros caros para eles saírem por ai fazendo farra, isso sim é errado, e
se deixar as riquezas la por conta deles, eles vão negociar
clandestinamente como nos sabemos da farra do mogno pelos os indígenas
de Redenção Pa. Isso é fato. Portanto eu sou favorável que o Governo
Brasileiro libere logo a extração de Volta Grande, para a empresa
Canadense explorar, não pra fazer como foi em Serra Pelada, deram o cano
nos garimpeiros, uma vergonha seu Edson Lobão, cadê o dinheiro dos garimpeiros de Serra Pelada? a maioria seus conterrâneos maranhenses.
Rodrigo Vianna Rodrigues concordo Rodrigo Vianna Rodrigues Taih
uma coisa que EU concordo totalmente! OURO no Brasil deveria ser
tratado como o petroleo!!! So poderias ser explorado por uma estatal
nacional! Aaah... Nossa isso era o que acontecia antes neh!! Alguem se
lembra que a privatização da VALE foi feita a pouco mais de 15 anos?????
Perdemos nosso ouro naquela data!! PODEMOS ter de volta!!! basta a
sociedade organizada cobrar a reestatização da VALE!!! Será que a Dilma
teria essa coragem e esse espirito patriota???
Amazônia abriga terceira corrida do ouro no Brasil
Carolina Gonçalves Da Agência Brasil, em Brasília
O que o resultado das operações de fiscalização de crimes ambientais
sinalizava, e o governo temia, está sendo confirmado agora por
especialistas em mineração e órgãos ambientais: começou, há quase cinco anos, a terceira corrida do ouro
na Amazônia Legal, com proporções, provavelmente, superiores às do
garimpo de Serra Pelada, no sul do Pará, no período entre 1970 e 1980. Nos últimos cinco anos, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis) desativou 81 garimpos ilegais que
funcionavam no norte de Mato Grosso, no sul do Pará e no Amazonas, na
região da Transamazônica. O Ibama informou que foram aplicadas multas no
total de R$ 75 milhões e apreendidos equipamentos e dezenas de motores e
balsas. Nesta
semana, fiscais do Ibama e da Funai (Fundação Nacional do Índio) e
agentes da Polícia Federal, desativaram três garimpos ilegais de
diamante no interior da Reserva Indígena Roosevelt, em Rondônia.
Dezessete motores e caixas separadoras usadas no garimpo ilegal foram
destruídos, cessando o dano de imediato em área de difícil acesso.
Empreendimentos de mineração de médio porte povoam de crateras a paisagem ao redor de Serra Pelada Leia maisBreno Castro Alves/UOL - 18.07.2008
A retomada do movimento garimpeiro em áreas exploradas no passado, como
a Reserva de Roosevelt, e a descoberta de novas fontes de riqueza
coincidem com a curva de valorização do ouro no mercado mundial. No ano passado, a onça – medida que equivale a 31,10 gramas de ouro – chegou a valer mais de US$ 1,8 mil. Com a crise mundial, a cotação no mercado internacional,
recuou um pouco este ano, mas ainda mantém-se acima de US$ 1,6 mil. No
Brasil, a curva de valorização do metal continua em ascensão. No início
deste ano, o preço por grama de ouro subiu 12%, chegando a valor R$ 106,49.
"É um valor muito alto que compensa correr o risco da clandestinidade e
da atividade ilegal. Agora qualquer teorzinho que estiver na rocha, que
antes não era econômico, passa a ser econômico", afirma o geólogo Elmer
Prata Salomão, presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Mineral e
ex-presidente do DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral), ligado ao Ministério de Minas e Energia.
Como a atual corrida do ouro é muito recente, os dados ainda são
precários e os órgãos oficiais não têm uma contagem global. Segundo
Salomão, que presidiu o DNPM na década 1990, depois da corrida do ouro
de Serra Pelada, foram feitos levantamentos que apontaram cerca de 400
mil garimpeiros em atividade no Brasil.
Regiões estratégicas
O secretário executivo da Adimb (Agência para o Desenvolvimento
Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira), Onildo Marini, cita duas
regiões em Mato Grosso consideradas estratégicas para o garimpo: o Alto
Teles Pires, no norte do estado,
que já teve forte movimento da atividade e hoje está em fase final, e
Juruena, no noroeste mato-grossense, onde o garimpo foi menos explorado. "Tem garimpos por toda a região e tem empresas com
direitos minerários reconhecidos para atuar lá", relata. Como ainda há
muito ouro superficial que atrai os garimpeiros ilegais, a área tem sido
alvo de conflitos. As empresas tentaram solucionar o problema no final
do ano passado, quando procuraram o governo de Mato Grosso e o DNPM. "A
notícia que tive é que a reunião não foi muito boa. Parece que o governo local tomou partido do garimpo", disse ele. Procurado pela Agência Brasil, o governo de Mato Grosso não se manifestou.
"Os garimpos mais problemáticos são os de ouro e diamante. Na Amazônia,
incluindo o norte de Mato Grosso, estão os mais problemáticos e
irregulares, tanto por estarem em áreas proibidas, como por serem
clandestinos."
Veja registros do desmatamento na Amazônia nos últimos anos58 fotos
58 / 58
abr.2014
- O Ibama, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o
Batalhão de Policiamento Ambiental (Bpam), realizou operação na Terra
Indígena Rio Manicoré, localizada no município de Manicoré, sul do
Estado do Amazonas. Durante a ação, foram apreendidos aproximadamente 85
m³ de madeira em toras e foram aplicadas multas de R$ 30 mil. A
madeira, em sua maior parte, angelim-pedra, estava sendo transportada na
balsa Navezon B29, que também foi apreendida Ditec/Ibama
A Reserva Roosevelt, no sul de Rondônia, a 500 quilômetros da capital,
Porto Velho, é outro ponto recorrente do garimpo ilegal. A propriedade
de mais de mil índios da etnia Cinta-Larga, rica em diamante, foi palco
de um massacre, em 2004, quando 29 garimpeiros, que exploravam
clandestinamente a região, foram mortos por índios dentro da reserva. O
episódio foi seguido por várias manifestações dos Cinta-Largas,
incluindo sequestros, que pediam autorização para explorar a reserva. "Agora existe um grupo de garimpeiros atuando junto com os índios, ilegalmente. Agora, eles estão de mãos dadas. A gente viu fotografias com retroescavadeiras enormes", diz o geólogo.
Os garimpos na Reserva do Roosevelt voltaram a ser desativados esta
semana, quando o Ibama deflagrou mais uma operação na região, com o
apoio da Polícia Federal.
Marini explicou que ainda não é possível contabilizar os números da
atividade praticada ilegalmente na região. "Não há registro. Em Tapajós,
onde [o garimpo] está na fase final, falava-se em valores muito altos,
em toneladas de ouro que teria saído de lá, mas o registro oficial
é pequeno, a maior parte é clandestina. Ouro, diamante e até estanho,
que é mais barato, na fase de garimpo, mais de 90% era clandestino".
Operários da mineradora canadense no túnel escavado recentemente em Serra Pelada. A terra rica em partículas de ouro será retirada e levada à superfície por máquinas (Foto: Antônio Milena / Milenar)
Reportagem de Leonardo Coutinho, de Curionópolis, publicada em edição impressa de VEJA Texto originalmente publicado a 12 de novembro de 2012 A NOVA CORRIDA A SERRA PELADA No local onde existiu
o maior garimpo do mundo, ainda há muito ouro. Em 2013, esse tesouro
começará a ser explorado de forma organizada e com o uso de tecnologia
moderna Vinte e cinco anos depois do
fechamento do maior garimpo do mundo, Serra Pelada voltará a produzir
ouro. No lugar dos 100.000 homens de todas as partes do Brasil
que se amontoaram nos terraços enlameados de uma cratera cavada no sul
do Pará em busca do metal precioso, em condições precárias, haverá
máquinas modernas operadas por funcionários com carteira assinada e
protegidos por equipamentos de segurança.
Nos anos 80, uma cena bíblica: a terra retirada no garimpo era carregada em sacos no ombro por milhares de garimpeiros, e a escavação se fazia com pás e picaretas (Foto: Luis Novaes – 1982 / Folhapress)
Em vez de garimpeiros agachados
em frente a uma fogueirinha fervendo mercúrio em uma panela para separar
as partículas de ouro da terra, serão utilizados complexos processos
não poluentes de decantação, flotação e fundição para produzir barras de ouro de 25 quilos com 80% de pureza. Nas próximas semanas, a mineradora canadense Colossus Minerals,
que está investindo 700 milhões de reais em Serra Pelada, concluirá a
medição da reserva ainda intocada, que escapou às escavações artesanais
dos garimpeiros na década de 80.
SEM
MERCÚRIO — No processo industrial, a separação será feita com técnicas
não poluentes, como a decantação e a fundição — na foto, em fase
experimental (Foto: Antonio Milena / Milenar)
Em 2010, quando a cooperativa dos
garimpeiros ganhou do governo federal o direito de retomar a exploração
de seu tesouro, os técnicos do Ministério de Minas e Energia estimaram
em 50 toneladas a quantidade de ouro ainda existente no local. Se o
cálculo se confirmar, será mais do que se conseguiu extrair nos sete
anos em que o garimpo funcionou, entre 1980 e 1987 (40 toneladas). Os velhos métodos, contudo, não
servem mais. O ouro remanescente encontra-se misturado em uma camada de
argila, a 200 metros de profundidade, que se estende a sudoeste da
cratera aberta nos anos 80. Os garimpeiros não sabiam disso
e, depois de retirar o ouro que estava mais próximo à superfície,
continuaram cavando na vertical. Em vão. Eles já não conseguiam encontrar
uma quantidade significativa do minério e acabaram atingindo um lençol
freático, que começou a inundar o garimpo. O governo, então, mandou
interromper as atividades no local.
COM MERCÚRIO — Na década de 80, os garimpeiros usavam metal tóxico para isolar o ouro das impurezas (Foto: Claudio Laranjeiras)
Para retomar a exploração, a
cooperativa teve de criar a Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento
Mineral, uma joint venture com a empresa canadense. Os 38.000
garimpeiros cooperados não precisarão fazer nada além de dividir entre
si 25% dos lucros da operação. Na Vila de Serra Pelada, situada no município de Curionópolis, há uma gameleira de 15 metros de altura que serve de ponto de encontro de homens que há trinta anos sonham com a reabertura do seu Eldorado. A árvore ganhou o apelido de “Pau da Mentira”,
por causa das histórias improváveis contadas à sua sombra, mas bem que
agora poderia ter seu nome mudado para “Pau da Esperança”.
CLIQUE NA IMAGEM PARA VÊ-LA EM TAMANHO MAIOR
José Mariano dos Santos, de 58
anos, acredita que a nova fase de Serra Pelada poderá garantir a ele e
seus colegas uma renda mensal de 20.000 reais. No passado, Santos chegou
a acumular 411 quilos de ouro, o equivalente a 47 milhões de reais em valores atuais, o que fez dele o segundo homem mais rico do garimpo. Esbanjou tudo em festas, em
viagens extravagantes e em investimentos desastrados. Hoje ele sobrevive
do salário mínimo que recebe como aposentadoria. Os representantes da mineradora
se preocupam com as expectativas dos seus sócios brasileiros. “Não temos
dúvida de que esta mina tem potencial para se tornar uma das mais
produtivas do mundo, mas infelizmente não será capaz de enriquecer esses
38.000 homens”, diz a canadense Ann Wilkinson, vice-presidente da
Colossus.
ALAGADA
— Na gigantesca, impressionante cratera escavada nos anos 80, os
garimpeiros que eram donos de “barrancos” contratavam outros homens para
ajudá-los a retirar a terra com ouro. O lago que se formou no local tem
uma área equivalente à de dois estádios do Maracanã (Foto: Antonio
Milena / Milenar)
Para atender à remuneração
sonhada pelos garimpeiros, a mineradora teria de atingir uma média de
extração anual dez vezes a das principais minas do mundo. Isso é
impossível, mesmo com a alta concentração de ouro que os técnicos estão
encontrando em Serra Pelada. A média confirmada até agora é de 20 gramas de ouro
por tonelada de terra. Em comparação, a média na maior mina em operação
no Brasil, em Paracatu, em Minas Gerais, é de 0,45 grama por tonelada. Durante a fase de prospecção, os
geólogos descobriram que as imagens de enormes pepitas de ouro, que
ajudaram a fomentar a corrida a Serra Pelada nos anos 80, não se
repetirão. Essas pedras já eram raras naquele tempo, e, agora, mais ainda.
Cada terraço retangular é um “barranco”, medida de propriedade dos garimpeiros na década de 80 (Foto: Grislaine Morel / Gamma)
O ouro em pó que sobrou está
diluído no solo argiloso. Para que se chegue aos pontos de maior
concentração do metal, foi construído um túnel de 1 600 metros de
extensão e 5 metros de largura. Mesmo que haja alguma pepita em
meio às 150 toneladas de terra que serão recolhidas diariamente por
pequenas escavadeiras, ela acabará triturada no processo mecânico de
separação do metal. A dificuldade técnica e o alto
custo da extração na “nova” Serra Pelada são compensados de duas formas.
Primeiro, o ouro não é o único tesouro do local. Há quantidades significativas de platina
e paládio, metais de grande valor industrial e para a confecção de
joias. “Só são conhecidas outras duas minas no mundo onde o ouro vem
acompanhado desses metais”, diz o presidente da Colossus, o canadense
Claudio Mancuso.
NOVA
ILUSÃO — O garimpeiro José Mariano dos Santos, o Índio, achou 411
quilos de ouro, tornando-se um dos homens mais ricos de Serra Pelada (no
detalhe, no auge). Perdeu tudo. Ele sonha em receber 20.000 reais
mensais com a parcela que lhe cabe na repartição dos lucros da
mineradora com a cooperativa dos garimpeiros
A segunda compensação é a crescente demanda pelo ouro, motivada pela desvalorização do dólar e pela instabilidade nas bolsas de valores.
No ano passado, o metal acumulou uma alta de 16%, enquanto o índice
Bovespa caiu na mesma proporção, e os bancos centrais compraram 440
toneladas de ouro, quase seis vezes mais do que em 2010. O aumento da procura fez o preço
da onça troy (equivalente a 31 gramas) saltar de 300 dólares, em 1998,
para 1 710 dólares, na semana passada. Da preferência dos investidores
do século XXI à febre que levou milhares de brasileiros a abandonar a
família para tentar a sorte em Serra Pelada nos anos 80, o ouro é
desejado por uma razão simples. Ele é raro. Todo o ouro já extraído no
planeta, 160.000 toneladas, caberia em apenas 64 piscinas olímpicas.
Operários da mineradora canadense no túnel escavado recentemente em Serra Pelada. A terra rica em partículas de ouro será retirada e levada à superfície por máquinas (Foto: Antônio Milena / Milenar)
Reportagem de Leonardo Coutinho, de Curionópolis, publicada em edição impressa de VEJA Texto originalmente publicado a 12 de novembro de 2012 A NOVA CORRIDA A SERRA PELADA No local onde existiu
o maior garimpo do mundo, ainda há muito ouro. Em 2013, esse tesouro
começará a ser explorado de forma organizada e com o uso de tecnologia
moderna Vinte e cinco anos depois do
fechamento do maior garimpo do mundo, Serra Pelada voltará a produzir
ouro. No lugar dos 100.000 homens de todas as partes do Brasil
que se amontoaram nos terraços enlameados de uma cratera cavada no sul
do Pará em busca do metal precioso, em condições precárias, haverá
máquinas modernas operadas por funcionários com carteira assinada e
protegidos por equipamentos de segurança.
Nos anos 80, uma cena bíblica: a terra retirada no garimpo era carregada em sacos no ombro por milhares de garimpeiros, e a escavação se fazia com pás e picaretas (Foto: Luis Novaes – 1982 / Folhapress)
Em vez de garimpeiros agachados
em frente a uma fogueirinha fervendo mercúrio em uma panela para separar
as partículas de ouro da terra, serão utilizados complexos processos
não poluentes de decantação, flotação e fundição para produzir barras de ouro de 25 quilos com 80% de pureza. Nas próximas semanas, a mineradora canadense Colossus Minerals,
que está investindo 700 milhões de reais em Serra Pelada, concluirá a
medição da reserva ainda intocada, que escapou às escavações artesanais
dos garimpeiros na década de 80.
SEM
MERCÚRIO — No processo industrial, a separação será feita com técnicas
não poluentes, como a decantação e a fundição — na foto, em fase
experimental (Foto: Antonio Milena / Milenar)
Em 2010, quando a cooperativa dos
garimpeiros ganhou do governo federal o direito de retomar a exploração
de seu tesouro, os técnicos do Ministério de Minas e Energia estimaram
em 50 toneladas a quantidade de ouro ainda existente no local. Se o
cálculo se confirmar, será mais do que se conseguiu extrair nos sete
anos em que o garimpo funcionou, entre 1980 e 1987 (40 toneladas). Os velhos métodos, contudo, não
servem mais. O ouro remanescente encontra-se misturado em uma camada de
argila, a 200 metros de profundidade, que se estende a sudoeste da
cratera aberta nos anos 80. Os garimpeiros não sabiam disso
e, depois de retirar o ouro que estava mais próximo à superfície,
continuaram cavando na vertical. Em vão. Eles já não conseguiam encontrar
uma quantidade significativa do minério e acabaram atingindo um lençol
freático, que começou a inundar o garimpo. O governo, então, mandou
interromper as atividades no local.
COM MERCÚRIO — Na década de 80, os garimpeiros usavam metal tóxico para isolar o ouro das impurezas (Foto: Claudio Laranjeiras)
Para retomar a exploração, a
cooperativa teve de criar a Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento
Mineral, uma joint venture com a empresa canadense. Os 38.000
garimpeiros cooperados não precisarão fazer nada além de dividir entre
si 25% dos lucros da operação. Na Vila de Serra Pelada, situada no município de Curionópolis, há uma gameleira de 15 metros de altura que serve de ponto de encontro de homens que há trinta anos sonham com a reabertura do seu Eldorado. A árvore ganhou o apelido de “Pau da Mentira”,
por causa das histórias improváveis contadas à sua sombra, mas bem que
agora poderia ter seu nome mudado para “Pau da Esperança”.
CLIQUE NA IMAGEM PARA VÊ-LA EM TAMANHO MAIOR
José Mariano dos Santos, de 58
anos, acredita que a nova fase de Serra Pelada poderá garantir a ele e
seus colegas uma renda mensal de 20.000 reais. No passado, Santos chegou
a acumular 411 quilos de ouro, o equivalente a 47 milhões de reais em valores atuais, o que fez dele o segundo homem mais rico do garimpo. Esbanjou tudo em festas, em
viagens extravagantes e em investimentos desastrados. Hoje ele sobrevive
do salário mínimo que recebe como aposentadoria. Os representantes da mineradora
se preocupam com as expectativas dos seus sócios brasileiros. “Não temos
dúvida de que esta mina tem potencial para se tornar uma das mais
produtivas do mundo, mas infelizmente não será capaz de enriquecer esses
38.000 homens”, diz a canadense Ann Wilkinson, vice-presidente da
Colossus.
ALAGADA
— Na gigantesca, impressionante cratera escavada nos anos 80, os
garimpeiros que eram donos de “barrancos” contratavam outros homens para
ajudá-los a retirar a terra com ouro. O lago que se formou no local tem
uma área equivalente à de dois estádios do Maracanã (Foto: Antonio
Milena / Milenar)
Para atender à remuneração
sonhada pelos garimpeiros, a mineradora teria de atingir uma média de
extração anual dez vezes a das principais minas do mundo. Isso é
impossível, mesmo com a alta concentração de ouro que os técnicos estão
encontrando em Serra Pelada. A média confirmada até agora é de 20 gramas de ouro
por tonelada de terra. Em comparação, a média na maior mina em operação
no Brasil, em Paracatu, em Minas Gerais, é de 0,45 grama por tonelada. Durante a fase de prospecção, os
geólogos descobriram que as imagens de enormes pepitas de ouro, que
ajudaram a fomentar a corrida a Serra Pelada nos anos 80, não se
repetirão. Essas pedras já eram raras naquele tempo, e, agora, mais ainda.
Cada terraço retangular é um “barranco”, medida de propriedade dos garimpeiros na década de 80 (Foto: Grislaine Morel / Gamma)
O ouro em pó que sobrou está
diluído no solo argiloso. Para que se chegue aos pontos de maior
concentração do metal, foi construído um túnel de 1 600 metros de
extensão e 5 metros de largura. Mesmo que haja alguma pepita em
meio às 150 toneladas de terra que serão recolhidas diariamente por
pequenas escavadeiras, ela acabará triturada no processo mecânico de
separação do metal. A dificuldade técnica e o alto
custo da extração na “nova” Serra Pelada são compensados de duas formas.
Primeiro, o ouro não é o único tesouro do local. Há quantidades significativas de platina
e paládio, metais de grande valor industrial e para a confecção de
joias. “Só são conhecidas outras duas minas no mundo onde o ouro vem
acompanhado desses metais”, diz o presidente da Colossus, o canadense
Claudio Mancuso.
NOVA
ILUSÃO — O garimpeiro José Mariano dos Santos, o Índio, achou 411
quilos de ouro, tornando-se um dos homens mais ricos de Serra Pelada (no
detalhe, no auge). Perdeu tudo. Ele sonha em receber 20.000 reais
mensais com a parcela que lhe cabe na repartição dos lucros da
mineradora com a cooperativa dos garimpeiros
A segunda compensação é a crescente demanda pelo ouro, motivada pela desvalorização do dólar e pela instabilidade nas bolsas de valores.
No ano passado, o metal acumulou uma alta de 16%, enquanto o índice
Bovespa caiu na mesma proporção, e os bancos centrais compraram 440
toneladas de ouro, quase seis vezes mais do que em 2010. O aumento da procura fez o preço
da onça troy (equivalente a 31 gramas) saltar de 300 dólares, em 1998,
para 1 710 dólares, na semana passada. Da preferência dos investidores
do século XXI à febre que levou milhares de brasileiros a abandonar a
família para tentar a sorte em Serra Pelada nos anos 80, o ouro é
desejado por uma razão simples. Ele é raro. Todo o ouro já extraído no
planeta, 160.000 toneladas, caberia em apenas 64 piscinas olímpicas.